Crônicas do Titanic
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Famílias permanecem em impasse no Residencial São Marcos após despejo em plena pandemia
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Famílias permanecem em impasse no Residencial São Marcos após despejo em plena pandemia

Hoje, dia 19 de julho, as famílias que moram na Ocupação São Marcos quase sofreram uma ação de despejo da prefeitura. Em plena pandemia. Não seria a primeira vez.

No dia 6 de julho derrubaram a casa de Vânia, Daiane, Gabriel e outros trabalhadores que perderam sua fonte de renda no Residencial São Marcos.

Lembranças do 6 de julho

“Vieram sem mandato, sem nada. Metendo o pé. Não deixaram nem a gente levar nossas coisas”

“Trataram a gente como bandido”

Vânia Nascimento Santos, 33, trabalhadora informal -  estava à trabalho quando recebeu a ligação: “Estão derrubando a sua casa”! Ela veio correndo conversar com os agentes da prefeitura. Pediu 15 minutos pra tirar as suas coisas de dentro da casa. Uma amiga, grávida, se aproximou. “Foi aí que aconteceu... chegou um por trás com o spray de pimenta”. As duas levaram. Sem poder se defender.  

Voltando pra hoje

Dia 19 de julho, domingo, a Rua SM 15 se encheu de Guardas Civis Metropolitanos novamente. Eles foram responder a uma denúncia no 153 dessa terrível ameaças aqui:

Possibilidades de moradia digna durante uma pandemia para trabalhadores que perderam sua fonte de renda. Essa era a ameaça. Vejam o depoimento de uma mãe sobre o que ela sentiu vendo mais uma vez a polícia a frustrar seu desejo de ter uma casa sua, tranquilidade, segurança:

A alegação é que essa área vai ser destinada para um CMEI. As famílias alegam que o terreno está abandonado há 19 anos, era um terreno de mato alto e que agora começou a ter função social. Foram despejadas cerca de 20 famílias que estavam ocupadas a cerca de seis meses e também um casal de idosos que morava a 20 anos no local. Não havia nenhuma placa ou indicativo de obras para um CMEI no espaço “liberado” pelo despejo.  

Nota da Guarda Civil Metropolitana

A Guarda Civil Metropolitana recebeu denúncia na manhã deste domingo (19/7), pelo 153, sobre nova tentativa de invasão área pública municipal destinada a um Centro de Educação Infantil (CMEI), no Residencial São Marcos, mas esclarece que as famílias ainda estão no local. Um acordo foi feito para que os pertences permaneçam por lá, e a GCM continuará fazendo o monitoramento. A Secretaria Municipal de Planejamento e Habitação (Seplanh) já realizou o cadastramento habitacional e negocia uma solução com as famílias, sendo que algumas estão organizando a ida pra casa de parentes e às demais permanece a oferta de abrigo na casa da acolhida da Secretaria Municipal de Assistencia Social (Semas), que inclusive conta com a possibilidade de acolhimento de famílias completas em ambientes exclusivos, para que não haja separação de crianças e pais.

Resposta da Ocupação São Marcos

As famílias não querem acolhimento pela  SEMAS. Temem ficar aglomerados em instalações precárias. “Queremos nossa casinha, não assistência” diz Pricila Martins Santos. Pricila era ambulante na rua 44, polo de comércio têxtil da cidade, vendia bolo de pote, fazia outros trabalhos que agora minguaram com o período da pandemia. Um ocupante anônimo, que era motorista de ônibus da Rede Mobi, também confirmou que quer a casa, não acolhimento.

A ameaça de confronto foi neutralizada com o recuo dos Guardas Civis Metropolitanos após um diálogo com o advogado que defende a ocupação. Seguiremos acompanhando essa situação para futuros desenvolvimentos.

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Crônicas e prosas na perspectiva (humana, social, econômica e cultural) dos soterrados, dos desterrados, dos enterrados. Dos que ficaram para trás para salvar os que ficaram pra sair antes. Dos que saíram antes. Dos trabalhadores e trabalhadoras.