Crônicas do Titanic
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Dois minutos para Pedro Borges dos Reis
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Dois minutos para Pedro Borges dos Reis

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Pedro Borges dos Reis tinha 66 anos. Era professor de inglês nos colégios públicos de São Luís de Montes Belos. Pedro era um sujeito "boa praça". "Boa praça" de acordo com uma amiga é "agradável, gentil, sempre disposto a colaborar, uma conversa amiga". Era assim que ele era. Adorava andar de bicicleta. A filha me comentou que "humildade" e "solidariedade" eram palavras que definiriam quem ele foi pra quem era próximo que nem ela foi. Ele faria aniversário em 14 de setembro.

"Muitas vezes encontrei com ele no trevo de córrego do Ouro, de Sanclerlandia, e outras cidades" nos diz a colega que explicou porque ele era boa praça. "Ele era de luta. Nas assembleias de Goiãnia, nas lutas em sindicais ele tava sempre presente. Tivesse três, tivesse quatro reunião ele não desistia da luta" me explica companheira, que arremata "e tava muito triste, revoltado pelo aumento da contribuição previdenciária que a gente voltou a pagar depois de aposentado".

O novo coronavírus provocou 1.606 mortes e infecta mais de 66 mil pessoas em Goiás de acordo com dados da SES. Peço dois minutos para Pedro Borges. Pois dessa vez, perdemos foi ele. Não foi eu, nem você. Foi ele. E vai fazer falta. Tenho notícia que vai rolar um cortejo em sua homenagem. Com distanciamento, segurança. E dignidade. Se acontecer, dou notícia. Pois nossos trabalhadores merecem isso e muito mais.

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Crônicas e prosas na perspectiva (humana, social, econômica e cultural) dos soterrados, dos desterrados, dos enterrados. Dos que ficaram para trás para salvar os que ficaram pra sair antes. Dos que saíram antes. Dos trabalhadores e trabalhadoras.