“Não consigo respirar”: (1) protestos por George Floyd combatem a pandemia nos EUA?
Nessa série em cinco partes, vamos falar sobre as potencialidades do protesto anti-assassinato como espaço de cuidado coletivo, além de luto e luta coletiva.
Esse texto é a parte 1 de uma série. A parte 2 pode ser lida aqui.
Muita gente acreditava que os protestos antirracistas nos Estados Unidos gerariam uma onda de infecções no país. Eu era uma delas. No entanto, fui provado errado e descobri tentando entender porque que na reação dos trabalhadores americanos às tentativas de assassinato de seus policiais e de seus fascistas da hora do abate, eles conseguiram ensaiar uma nova sociedade muito mais interessante que a geraram um movimento que em seu método, objetivo e conteúdo, reproduzem uma hegemonia do movimento proletário pela vida.
Mas vamos pelo começo. Geraram ou não geraram pico de infecção? Como podemos verificar isso? Isso é de especial interesse porque os EUA como afirmei na Hora do Abate e demonstrei em Abatidos e Sobreviventes – é participante de algo que podemos chamar como articulação em torno do “Partido Internacional da Morte”. Apesar de terem pequenas briguinhas aqui e acolá, desde o começo se sabe que as iniciativas são coordenadas entre Trump e Bolsonaro.
O pico que não aconteceu
Em Minneapolis, origem dos protestos, registra-se que hoje reduzem-se as hospitalizações e as mortes; na região de Minneapolis, Minnesota, está registrado o quatro dia consecutivo de redução no número de mortes.
Em Seattle, outra região com muitos protestos, o prefeito da cidade anunciou que os protestos que recentemente chegaram a tomar a delegacia de polícia e formar uma Zona Autônoma Temporária, não causaram nenhum pico de infecção, como se pode verificar aqui.
Na cidade, aliás, houve testagem em massa recentemente inclusive por pressão dos movimentos sociais locais. O prefeito, apesar da inimizade com os protestos, tem insistido que as pessoas corram atrás de testagem imediatamente após comparecerem. E, novamente apesar de ser um adversário direto dos protestos, teve que admitir que de fato eles não haviam gerado o pico de infecção esperado por vários especialistas, mais os de direita que de esquerda, mas quase todos.
A Al Jazeera também noticiou que em diversos estados dos EUA, com exceção notável de Los Angeles, o quadro da pandemia apenas melhorou após os protestos do gerados pela morte de George Floyd dados os 14 dias para avaliar os impactos.
Ou seja, estávamos errados. É possível sim fazer protestos com cuidado. Mas como? E será possível fazer também no Brasil? Claro que sim. Porém – a forma como se organizam, quem chama e quem vai são determinantes. Não dá pra chamar de forma irrefletida, porque vivemos um momento único na história em que as reflexões estão fazendo diferença.
Quais eram os motivos do receio, então? E porque se mostraram infundados? Por que é que existe possibilidade forte de se replicar no Braisl algo parecido e dar certo?
É do que iremos tratar amanhã na parte 2. Mas bata lembrar que 2013 foi motivado, em grande parte, não apenas pelo aumento da passagem, mas pela solidariedade contra a violência policial, coisa que vemos acontecer agora na mobilização contra de Guilherme Silva Guedes, 15 anos, encontrado morto em Diadema. O caráter literalmente explosivo que essas lutas estão tomando no Brasil pode ser conferido abaixo: