O combate à Pandemia está fora de moda, mas o vírus nunca contaminou tanto em Goiânia e em Goiás.
Será que todos os governos decidiram que o discurso do combate à pandemia foi útil durante um tempo, mas a moda agora é falar em retomada do crescimento?
Os discursos falam na retomada de atividades. Já antes da reabertura quase generalizada do dia 14 de julho, o secretário estadual de Saúde, Ismael Alexandrino, representando o governador Ronaldo Caiado, que dizia que não era possível expandir mais a rede hospitalar, profetizava que, em poucas semanas, chegaríamos à faixa de 20% a 25% da população contaminada. Assim, a pandemia começaria a refrear naturalmente. Não seria esse um raciocínio análogo ao do presidente da República, de minimizar os efeitos da pandemia e torcer para as pessoas adquirirem rapidamente a chamada “imunidade de rebanho”, com as mortes consequentes? Seria uma espécie de plano para a pandemia passar mais rápido? Mas o que pode acontecer com a rede hospitalar já próxima do seu limite?
Será que todos os governos decidiram que o discurso do combate à pandemia foi útil durante um tempo, mas a moda agora é falar em retomada do crescimento? Isso teria alguma relação com as eleições? O fato é que, enquanto o governo do Estado fala em retomada, o prefeito de Goiânia faz obras e o de Aparecida encerra as ações que vinham, em comparação com Goiânia e outras cidades, até certo ponto conseguindo diminuir os impactos da pandemia, o número de contaminados só aumenta:
O prefeito de Aparecida de Goiânia, que parecia tomar um rumo mais responsável, decidiu, em período de franco crescimento do número de infectados e mortos, dizer que a necessidade do escalonamento acabou. Os dados da própria Secretaria Municipal de Saúde de Aparecida de Goiânia mostram que a cidade saiu de uma média móvel[1] de 149 contaminações diárias no dia 15 de julho (não foi possível contabilizar no dia 14 por uma falha nos dados da SMS da cidade) para 309 no dia 29, ou seja, 14 dias depois, para chegar no número de 301 no dia 13/08, ontem: ou seja, hoje temos mais que o dobro do número de casos, em média do que antes da “reabertura” do dia 14. Já o número de mortos passou, da semana do dia 15 para a última, de 30 falecimentos para 49 na última semana, um aumento de mais de 60%.
Goiânia começou a ter uma explosão do número de casos 8 dias após a reabertura do dia 14 de julho: nesse dia, a média móvel de contaminações diárias foi de 238 casos. Duas semanas depois, no dia 28, 630 casos. Foram registradas reduções em alguns dias, seguidas por novo aumento do número de casos, chegando ontem, 13/08, a 621 casos médios, maior do que o de 14 dias antes. O número de óbitos semanais passou, da semana do dia 14 para a última, de 44 falecimentos para 71 na última semana. A oscilação da média móvel do número de mortes não poderia, em hipótese algumas, ser vista como algo tranquilizante, pois os números não mostram nenhuma tendência consistente de queda e o grande aumento do número de casos após o dia 14 deveria fazer as autoridades do município de Goiânia ligarem o sinal de alerta.
O dia 22 de julho no Estado de Goiás representou um marco no número de contaminações diárias, que alcançou o recorde de 3.526 casos, de modo que a média móvel do dia 14 de julho, 923,3 casos, saltou para 2.514,14 em 28 de julho, ou seja, quase triplicou 14 dias após a reabertura. Esse número caiu e voltou a subir, chegando ontem, dia 13 de agosto a 2.430, maior do que a média móvel de 14 dias atrás, indicando tendência de crescimento.
Quanto ao número de óbitos, o recorde foi batido no dia 23, com 102 mortos! A soma do número de mortos na semana do dia 14 subiu de 195 para 289 na última semana.
O Observatório da Pandemia manifesta sua profunda solidariedade com todas as famílias que perderam entes queridos, ou que tiveram pessoas contaminadas e ainda lutam para recuperar sua saúde[2]. Ao lado da sociedade, cobramos que o enfrentamento à pandemia da COVID-19 seja feito com o maior respeito à vida humana e ao direito à saúde de todas as pessoas, com especial atenção aos trabalhadores e trabalhadoras da saúde, que arriscam suas vidas todos os dias na linha de frente para amparar os pacientes.
Quem somos
Em meio ao cenário que se instalou no Brasil nos últimos meses, em decorrência da pandemia, vivemos uma crise sem precedentes na história do país, a situação que começou nos estratos mais abastados e, num breve lapso de tempo, chegou nas classes populares e as vítimas fatais se tornam rotina em várias famílias.
Frente a esse contexto caótico, um coletivo envolvendo professores e técnico-administrativos da UFG, membros do Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno e membros do Sindsaúde reuniu pessoas de diferentes áreas do conhecimento com o objetivo comum de entender e discutir a tragédia que se abate sobre nós. Assim, entendemos que era preciso mostrar outra perspectiva sobre a pandemia e o momento atual, bem como reunir e analisar dados fornecidos pelos órgãos oficiais de saúde dos municípios, algo que tem faltado aos meios oficiais e mídias da nossa imprensa local, pelo menos no que diz respeito às últimas semanas.
Para além das análises, o grupo também pretende reunir dados oficiais, artigos, opiniões, etc., que possam refletir o momento que vivemos, esses deverão expressar o diverso e aquelas posições que não encontram espaço na grande mídia. O grupo também pretende colher relatos, opiniões, depoimentos, etc., e dar voz à aqueles que não a encontram em outros meios.
Convidamos todos a fazer parte desse coletivo e deixar sua contribuição!
Contatos:
observatoriodapandemia@gmail.com
Observatório da Pandemia no Facebook: https://cutt.ly/9d8XC6Q
NOTAS
[1]É a média dos últimos sete dias.
[2] Pra cada pessoa que morre de covid, 18 terão dano cardíaco permanente pro resto de suas vidas e 10 terão dano pulmonar permanente. Fontes: [1] Dano cardíaco foi comprovado neste https://jamanetwork.com/journals/jamacardiology/fullarticle/2763524?resultClick=1 e neste estudo https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)30183-5/fulltext. O dano pulmonar foi comprovado neste estudo: https://www.healthline.com/health-news/lifelong-lung-damage-the-serious-covid-19-complication-that-can-hit-people-in-their-20s#Whos-at-risk