Bolsonaro sabotou o combate à pandemia
Brasil tinha plenas condições de enfrentar a pandemia e foi sabotado por seu presidente. Reuni nesse post indícios desse fato.
"Eu estou no grupo de risco. Agora, eu nunca negligenciei. Eu sabia que um dia ia pegar. Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!" (1 de agosto de 2020)
Esta é a situação em que estamos.
Pouca gente sabe e consegue imaginar, mas o Brasil tinha plenas condições e quase evitou a tragédia que estamos vivendo hoje. Antes mesmo de Átila Iamarino (na verdade, o Imperial College) prever um milhão de mortes, haviam medidas sendo tomadas.
Em fevereiro, o governo federal se preparava para evitar a tragédia do Covid-19. Essa preparação era real. Consistiu, por exemplo, na antecipação da campanha de vacinação contra a gripe, pois era sabido que o pico da Covid-19 poderia coincidir com o início dessa epidemia anual no Brasil. Mandetta, então Ministro da Saúde, fez um trabalho miúdo, discreto, de preparação no Brasil a este embate.
Aqui, o Ministro da Saúde garantiu verbas para os estados que tivessem dificuldades de enfrentar o surto de corona, instituiu uma normativa proibindo cruzeiros, recomendando autoquarentena a viajantes, sugerindo que não houvesse eventos com aglomerações, o próprio Conselho Nacional de Saúde cancelou sua reunião seguindo tal orientação, normativas facilitando atestados digitais e uma recomendação para assegurar a saúde dos servidores terceirizados foram editadas.
Uma reportagem da revista saúde divulga com otimismo as medidas que seriam tomadas no dia 13 de março. Essas medidas estavam previstas desde fevereiro de 2020. O que aconteceu? Seja lá o que for as consequências eram sabidas: “Se não adotarmos nenhuma das medidas, o número de casos no Brasil pode dobrar a cada três dias”, ponderou Wanderson de Oliveira, então Vigilante em Saúde do Ministério da Saúde em coletiva de imprensa.
O que aconteceu? A reportagem de Stephen Eisenhammer e Gabriel Stargardter matou a charada. Uma vez chegado ao Brasil, Bolsonaro, coordenado e articulado com seus pares internacionais, tratou de desmontar tudo que foi feito até então. Dois meses de preparação, desfeitos em dias. Quem quiser conferir, basta olhar a diferença entre a diretriz de 12 de março e 13 de março de 2020. Demorou um pouco para ficar perceptível a real intenção, mas conseguiram desmontar burocrática e politicamente toda a estrutura de cuidado e apoio de combate à pandemia. Inicialmente, em silêncio. Mandetta ficou como a face pública de uma estrutura que não existia mais. Virou uma farsa.
Se fosse realidade, qual seria o cenário que viveríamos? De acordo com Carlos Orsi, na mais pessimista das projeções do Imperial College, seria a seguinte:
“Vamos pensar um pouco nisso: se o Imperial College estava certo em 26 de março, o Brasil já perdeu a chance de salvar pelo menos 50 mil vidas. Se estava errado, se mesmo a previsão mais otimista do grupo britânico era, na verdade, “alarmista”, a oportunidade perdida, e a culpa de quem a deixou passar, é inconcebivelmente maior”.
Se a gente tiver uma imaginação mais ousada, pensemos em um Vietnã que está enfrentando a pandemia a tanto tempo quanto nós e registra sua primeira morte em 1 de agosto. Pensemos em uma Tailândia que apesar do intenso fluxo de turismo registrou apenas 3.312 casos de covid-19 e 58 mortes. Mas imaginem só por um segundo, porque não foi a nossa realidade.
Aqui, a situação chegou a tal gravidade que o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso decide proibir Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, de fazer campanha para a população furar o isolamento.
O governo já havia projetado seus 100 mil mortos. Diz reportagem da Folha:
Ex-secretário do Ministério da Saúde, o epidemiologista Wanderson Oliveira contou à repórter Natália Cancian que o Palácio do Planalto foi avisado de uma projeção que estimava em 100 mil o número de mortes por coronavírus em seis meses. Segundo ele, os dados chegaram à cúpula do governo já em março. Na última sexta-feira de março, Jair Bolsonaro apareceu na TV e disse o que pensava sobre o aumento de casos de coronavírus no país: "Alguns vão morrer? Vão, ué. Lamento. Essa é a vida, é a realidade".
E quem é responsável pela decisão? Mandetta, logo após sair do Ministério da Saúde, falou o seguinte:
“"Tem economista aí que acha melhor que morra logo todo mundo que tem morrer para a economia voltar ao normal. Não é assim".
Os meios de comunicação também começaram a falar do assunto sem meio termo assim que Nelson Teich saiu do Ministério da Saúde. Em 16 de maio, O Estadão falou que se consolidava “A opção pela morte”:
“Como escreveu o médico Antonio Carlos do Nascimento em artigo publicado ontem no Estado, “sem a opção do genocídio, só nos resta o isolamento e a testagem abrangente para limitar o universo de circulação do vírus”. Aparentemente, o presidente Bolsonaro já fez sua mórbida opção”.
Antes de Gilmar Mendes já haviam quem falasse nessa linguagem. E o Estadão não estava sozinho.
O Globo em início de junho falava em linguagem similar. Em 3 de junho na reportagem “População foi liberada para o abatedouro, diz integrante do Portal covid-9’ d’O Globo:
“- Não estamos falando do que vai ocorrer dentro de um ou dois meses, mas de uma semana a dez dias. Até agora, temos acertado nossas projeções e, por isso, estamos tão preocupados. É nosso dever alertar a população de que ela foi liberada para ir ao abatedouro”.