18 dias sem ministro da saúde?
Pelo contrário: Pazuello é pessoa certa na hora certa para o governo Bolsonaro
A saída de Teich do Ministério da Saúde — que motivou editorial do Estadão — abriu espaço para a entrada do General Eduardo Pazuello, paraquedista, especialista em logística, descrito por “fazer acontecer” e como “excelente coordenador das operações logísticas durante as olimpíadas e paraolimpíadas no Rio de Janeiro em 2016”. Pazuello foi comandante da Operação Acolhida, responsável pelo gerenciamento dos refugiados Venezuelanos, entre março de 2018 e janeiro de 2020. É conhecido por ser um sujeito inovador na tecnologia de empuxo de carroças e por toques humanos no trato da administração como usar a expressão “brother” e “tamo junto”. “A vida é dura, brother”, disse o atual número 1 da Saúde quando foi indicado para ser o número 2 da pasta, com a qual disse “não ter muita afinidade”. Vejam o que disse um soldado que já trabalhou pra ele do sujeito:
Além de não conhecer nada da área de saúde, Pazuello se mostrou um sádico nas operações que estava a frente. Um dos episódios que presenciei foi quando o general puniu toda uma guarnição simplesmente por não gostar da formatura. Ele deixou a tropa em pé por mais de quatro horas debaixo de um sol escaldante em pleno verão do Rio de Janeiro… e estava claramente satisfeito com isso.
Qual o motivo de ter sido escolhido, então? Floriano Peixoto (não aquele, outro!) dá um motivo que pode ser dito às claras: inteligência privilegiada, capacidade de articulação invulgar, educação e qualidades pessoais como “metódico, integrador, extremamente organizado”. Um general organizado fala o motivo que não pode ser dito às claras e deixa um arrepio a quem sabe ler nas entrelinhas: “Pazuello fez sua carreira como um daqueles que são sempre escalados para o que chamamos de ‘boca podre’. Aquelas missões que ninguém quer receber e poucos conseguem resolver”. Teich, ao receber o general, deu mais uma pista: “É uma pessoa que vem trazendo uma contribuição num momento em que a gente corre contra o tempo. Não contra o tempo em relação à saúde só na [pandemia de] Covid, mas em relação a como o país vai ficar, como sistema de saúde”.
A vida é dura mesmo, “brother”, e não são só eles que estão correndo contra o tempo, não apenas contra a Covid: nós também estamos. Precisamos perceber isso logo, e começar a correr no sentido contrário.
Estamos com ministro da saúde sim.
Catástrofes, desastres, crimes
Resolvida a questão do que é isso e isso é um projeto de extermínio genocida e eugênico: como esse projeto está sendo realizado no Brasil? Que eugenia é essa? Que genocídio é esse? Por que é que ele não parece real? Por que o governo parece — e muitas vezes consegue — criar uma impressão de que não há ninguém morrendo? Como é possível que morram 800 a 900 pessoas por dia no país, mortes evitáveis se compararmos com países ao lado, e não haja uma comoção coletiva gigantesca que derrube esse governo?
Para termos uma noção, o rompimento da barragem de Brumadinho causou 259 mortes e uma verdadeira insurreição moral contra a Vale do Rio do Doce. Trata-se de mortes evitáveis de trabalhadores causadas por negligência e por “ganância”. Por que a comoção — e a busca por reparação — diferentes? É questão de escala? Mais mortes “não dá para aguentar”, “não dá para sentir mais”? Só para quem vê as mortes de longe, em tabelas. A chave está em outro lugar, está nesta palavra aqui: evitáveis. Ela comporta um responsável por uma ação: um sujeito que matou porque a morte lhe interessava mais que evitar as mortes. Também comporta sujeitos que lutam por justiça: os mortos, seus familiares, a sociedade. Gente a quem interessava evitar as mortes: passadas e futuras.