Um minuto para Rosa
Rosa trabalhava na Escola Municipal Recanto do Bosque. E faleceu dia 14 de julho.
Goiânia tem 411 óbitos de covid-19 até agora. Goiás, 1378. Óbitos, quero dizer, mortes. O Brasil tem 86.591. Até agora. A funcionária de biblioteca de escola municipal Rosa Maria oficialmente não é uma delas. Oficialmente, Rosa Maria partiu dia 14 de julho, terça feira, por infarto fulminante. “Era uma pessoa tão doce”, me diz um conhecido, “o pânico da pandemia não deve ter deixado de afetá-la”. Então, como minha colega de profissão não vai chegar aos Inumeráveis por não constar nos números oficiais, peço um minuto da sua atenção. Para Rosa.
Rosa trabalhava na Escola Municipal Recanto do Bosque. Ela tinha um projeto junto com outra colega da escola de cuidar dos cachorros abandonados que buscavam abrigo na escola. “Nunca a vi com olhar de ofensa a quem quer que seja”, me conta um colega.
Rosa Maria acreditava na vida. Numa vida que se realizava entre nós, no dia a dia. “A começar pelo sorriso belo que recebia a todas as pessoas na porta da biblioteca, lugar tão sagrado e tão desprezado pelo poder público naquela escola, tal como na maioria das escolas públicas do país”.
Ela costumava organizar e distribuir, “a cada semana ou quinzena, pedacinhos de papéis em torno de 10 cm por 10 cm que traziam indicações de sites da imprensa e afins, bem como, de canais do YouTube, que estavam a tratar de temas de interesse à classe trabalhadora”. Com essa arma em mãos, artesanal, feita em casa com toda a atenção, Rosa dialogava com toda a comunidade escolar. Em especial quando passavam perto da biblioteca e eram fisgados pelo seu sorriso de boas vindas. Foi “através destes papéis que nos aproximamos e mantivemos uma amizade de respeito mútuo nos três anos em que pudemos conviver, seus últimos três anos de vida”.
Rosa acreditava na vida. E buscava, a qualquer momento, fazer sua parte para que o melhor da vida se realizasse entre nós. Todo dia, no seu espaço, do jeito que dava. É o que me conta um colega que sente muito a falta de Rosa Maria. E eu acredito.
Podia ter sido eu que também trabalho biblioteca. Podia ter sido algum familiar meu ou alguém que eu amo. Mas não foi. Foi Rosa Maria, trabalhadora da Escola Municipal Recanto do Bosque. A dos papéizinhos. Perdemos foi ela. Não a conheço, mas me dói também. Uma pessoa a menos pela vida e pela felicidade geral. Vai fazer falta, se você pensar bem.
Já se foram demais. Demais. Insubstituíveis demais. Tenho notícia que Sidney, o porteiro da Escola Municipal Recanto do Bosque, “gente boa demais”, tá na UTI – esse é por COVID-19 mesmo. Peço que mandem as melhores energias para o camarada Sidney. Não podemos perder mais ninguém. Ninguém. Nem um minuto a mais de silêncio.