Quem te viu, quem te vê, Ronaldo Caiado
Um dos maiores defensores da quarentena contra a irresponsabilidade hoje se vê dizendo que Bolsonaro sempre quis "o bem do povo brasileiro"
Quando Bolsonaro fez o seu discurso do isolamento vertical em 26 de março, as reações foram variadas entre as esferas de governo brasileiras. Falei delas no meu texto Nova Visita ao Açougue.
Quais foram as respostas? Mandetta disse que “ia conversar com ele”. Davi Alcolumbre achou que não era pronunciamento de liderança “séria”. Rodrigo Maia pediu “sensatez, equilíbrio e união”. Gilmar Mendes pediu “solidariedade e corresponsabilidade”. Witzel do Rio de Janeiro falou que o presidente “contraria a OMS”. Rui Costa da Bahia disse que Bolsonaro devia “acordar. Vou continuar trabalhando mais e mais. Olhar nos olhos das pessoas e dizer: estamos numa guerra. Temos que vencê-la. Responsabilidade”.
Caiado, de Goiás, rompeu com o presidente.
Marcelo Freixo, principal figura da oposição de esquerda, reclamou de ter de ver “um presidente desqualificado mentir, debochar e provocar um país”. Repetindo: o médico citado pelo presidente para fundamentar a proposta o acusou de usar seu estudo para causar milhares de mortes. A resposta foi essa.
Ironicamente, o único a ser mais claro foi Kim Kataguiri do DEM:
“o presidente dobrou a aposta do discurso lunático e colocou em xeque as políticas de isolamento defendidas pelo seu próprio ministro da Saúde (…) Em vez de propor soluções, preferiu atacar a imprensa, os governadores e fazer piada em rede nacional. Tragédia anunciada”.
Tragédia anunciada para quem? E se foi anunciada… por que vão deixar acontecer? O médico Walter Ricciardi, citado por ele para desautorizar as quarentenas nos estados e prefeituras, tratou logo de desautorizar presidente: “É muito sério, é um novo vírus, todos são suscetíveis, se (a pandemia) ficar descontrolada poderemos ter milhões de casos e milhares de mortes. Isso subestima o impacto da epidemia em vidas humanas”. Em outras palavras, acusou diretamente o presidente do país de tentar provocar milhares de mortes. Qual foi a resposta?
Repetindo: o médico citado pelo presidente para fundamentar a proposta o acusou de usar seu estudo para causar milhares de mortes. A resposta foi essa.
Meses depois disso tudo, Caiado se vê completamente derrotado, libera bares e jogos de futebol e diz que Bolsonaro “sempre quis o bem do povo brasileiro.”