Algo de inquietante acontece no reino de Roraima
De Roraima surgiu Pazuello, Carlos Wizard e é da Roraima que vão surgir as mais inquietantes respostas às questões que a Nova República agonizante se coloca
Tem algo estranho e importante acontecendo em Roraima com os indígenas e os refugiados venezuelanos.
O Intercept apurou que um General Barros falou o seguinte para sua tropa em abril: “É como eu digo, vale para mim, vale para vocês. Nós não estamos infectados, nós estamos sendo imunizados para ações futuras. Essa é a visão que temos que ter”. O número de militares infectados em abril chamou a atenção da imprensa. Esses militares incentivados a se infectar “cuidavam” de 6 mil refugiados venezuelanos. Em maio, 20% dos militares infectados estavam nessa operação. Foram 200 militares infectados de 1.020 infectados em Roraima à época – em maio. Desde então, desenvolveu-se algo assustador por lá.
Hoje, Roraima chegou a 36.449 infectados pelo covid-19 e 547 mortes oficiais. A população de Roraima é de aproximadamente 500 mil habitantes. Em que pese terem leitos com redes ao invés de macas no hospital de campanha, os indígenas enfrentam uma situação bastante assustadora por lá.
Mais de 36 mil infectados em Roraima. É um número que em princípio não chama a atenção mas não deveria passar batido. Vamos fazer algumas contas. Para termos uma ideia, Goiás tem 107.658 casos e 6,5 milhões de habitantes.
Para que Roraima fosse proporcionalmente parecido com Goiás, onde houve uma liberação grande de atividades, fazendo uma regra de três simples, teria que ter 8.230 casos. Para que Goiás fosse ter uma proporção parecida com Roraima, nós teríamos que ter 473 mil casos – mais de quatro vezes mais infectados.
Roraima é o caso extremo que acontece quando a prefeitura da principal cidade, os principais políticos, boa parte da sociedade civil, o governador do Estado e o presidente do país estão na mesma linha de imunidade de rebanho – deixar a infecção correr livremente. Para se ter uma ideia, a iniciativa Protege Br – articulação de empresas e sociedade civil para garantir EPI’s contra o covid-19 – tem apenas uma iniciativa isolada em Roraima. Na maioria dos outros Estados, ocorrem mais iniciativas integradas e de várias entidades. E essa iniciativa é recente – em maio não existia, quando conferida pelo autor anteriormente.
Os indígenas Yanomâmis que também vivem na região agora denunciam que seus bebês estão sendo enterrados não sabem onde, sem o conhecimento das famílias. Iniciativa no mínimo estranha em um Estado despreocupado com as infecções. Lembra os episódios descritos por Edwyn Black no primeiro capítulo de seu livro sobre eugenia, em que médicos praticamente sequestravam as crianças de comunidades que queriam literalmente apagar das populações para esterilização forçada e inconsciente – com o pretexto de tratamento de outras doenças.
Pazuello, o eterno ministro interino da saúde e o responsável pelo desaparecimento de dados oficiais confiáveis sobre a pandemia desde maio, foi comandante da Operação Acolhida, responsável pelo gerenciamento dos refugiados venezuelanos, entre março de 2018 e janeiro de 2020. “Pazuello fez sua carreira como um daqueles que são sempre escalados para o que chamamos de ‘boca podre’. Aquelas missões que ninguém quer receber e poucos conseguem resolver”.
Foi Pazuello quem trouxe Carlos Wizard, o breve, para o Ministério da Saúde. Wizard descreveu em entrevistas amplamente divulgadas que “onde Pazuello vai, ele vai junto”. Veja a descrição feita do trabalho deles pela Uol: “Convidado por Pazuello, com quem trabalhou por dois anos na Operação Acolhida, de recebimento de imigrantes venezuelanos na fronteira em Roraima, esta será sua primeira incursão no setor público”.
Não foi a primeira incursão dele com público, evidentemente. Em uma matéria nomeada A lista de Wizard [2] ele é descrito em uma rotina que não é a de “um homem de negócios comuns”. O trecho já mostra exatamente do que se trata:
Pontualmente às 6h da manhã, o versículo bíblico é uma fonte de inspiração para aquela que Wizard considera ser a maior de todas as suas missões: acolher e auxiliar refugiados venezuelanos na fronteira. “Deus me deu a missão de ajudar esses estrangeiros, que fogem da fome e da miséria, a ter a chance de um recomeço e a uma vida digna”, disse o empresário à DINHEIRO, em um dos 13 campos de acolhimento instalados pelas Forças Armadas no Estado. “Com gestão empresarial, vou esvaziar todos os abrigos de Roraima.”
Campos de acolhimento, esvaziar todos os abrigos. Uma escolha de palavras intrigante, no mínimo. Wizard publicou uma autobiografia chamada Um exercício de humildade, ficou brevemente no Ministério da Saúde e hoje voltou para sua “missão divina”.
Ficamos intrigados e preocupados, sem dúvida. De Roraima surgiu Pazuello, Wizard e é da Roraima que vão surgir as mais inquietantes respostas às dúvidas que a Nova República agonizante se coloca.